Capítulo 3: Funeral
Voltando ao assunto, eu fiquei curioso pra ver como as coisas iam rolar no velório do velho shing ling, cujo nome não consigo me lembrar. Foi um negócio meio triste, pior que o do meu coroa, quando ele bateu as botas havia meia dúzia de fracassados velando seu corpo, incluindo eu e minha mãe. Só que pra minha maior surpresa, no enterro desse pobre filho de Deus não apareceu nenhuma alma viva além de mim, nem mesmo os vizinhos colegas que lhe compraram o caixão e o bonsai.
“Bando de filhos-da-puta”, eu pensei, mas logo imaginei que toda a elaboração do funeral já tivera tomado grande parte de tempo desses vizinhos gentis, certamente eles tem mais o que fazer.
De certa forma estou feliz de ter vindo apenas eu, do contrário estaria correndo o risco de presenciar uma daquelas cenas deprimentes que nunca fogem da nossa memória, coisas do tipo: uma amante secreta se desmanchando em lágrimas, ou um daqueles caras vingativos que ficam dando risadas e falando desaforos sobre a pessoa morta como se o cara fosse levantar do caixão e começar a retrucar em sua própria defesa. Entretanto pela experiência que venho adquirindo visitando a cemitérios, esse tipo de coisa nunca acontece, as pessoas mesmo que detestando o morto, agem como se tivessem sofrido uma perda irreparável quando na verdade, por dentro estão saltitando feito crianças hiperativas. Não demorou muito pro velho ser enterrado; de repente surgiram dois malandros fortões e disseram friamente:
- Podemos levar?
Eu consenti com a cabeça e lá se foi o velho pra cova.
“Bando de filhos-da-puta”, eu pensei, mas logo imaginei que toda a elaboração do funeral já tivera tomado grande parte de tempo desses vizinhos gentis, certamente eles tem mais o que fazer.
De certa forma estou feliz de ter vindo apenas eu, do contrário estaria correndo o risco de presenciar uma daquelas cenas deprimentes que nunca fogem da nossa memória, coisas do tipo: uma amante secreta se desmanchando em lágrimas, ou um daqueles caras vingativos que ficam dando risadas e falando desaforos sobre a pessoa morta como se o cara fosse levantar do caixão e começar a retrucar em sua própria defesa. Entretanto pela experiência que venho adquirindo visitando a cemitérios, esse tipo de coisa nunca acontece, as pessoas mesmo que detestando o morto, agem como se tivessem sofrido uma perda irreparável quando na verdade, por dentro estão saltitando feito crianças hiperativas. Não demorou muito pro velho ser enterrado; de repente surgiram dois malandros fortões e disseram friamente:
- Podemos levar?
Eu consenti com a cabeça e lá se foi o velho pra cova.
Nesse momento tive a breve sensação de estarmos sendo observados de longe por uma garota acompanhada de um cãozinho a uns 20 metros de onde estávamos, mas no fim das contas eu a ignorei. Contudo por mais tenso que tenha sido esse processo de enterrar o velho sem nem ao menos fazer uma oração, levando em consideração o carácter dos padres dessa cidade, continuo preferindo que esteja apenas eu aqui mesmo. Terminada a cerimonia fúnebre aproveitei para visitar o túmulo do meu pai, não foi nada depressivo, esse drama todo que aparece na TV não combina muito com a relação que tínhamos um com o outro. Eu apenas me sentei ao lado do túmulo e disse:
- E ai, coroa? Como vai? - Ninguém responde.
“... Mas eu sei que está tudo bem...”.
- E ai, coroa? Como vai? - Ninguém responde.
“... Mas eu sei que está tudo bem...”.
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