sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pequeno diário da Morte(New)

Introdução:

No dia em que eu faleci pela primeira vez, nada parecia fazer sentido; amor, felicidade, satisfação e orgulho..." Que significado poderiam fazer essas palavras?"
Por esse motivo percebi que não havia sentido em viver, ao menos que este fosse um morto viver. A morte dentro da vida, ou, a vida mergulhada na morte .
 
Daí em diante inventei diversas maneiras de morrer ainda vivo.
Forcas, afogamentos, cortes superficiais nos pulsos, acidentes minunciosasmente planejados...Entre outras peripécias...
Tudo isso com o único objetivo de chamar a atenção das pessoas para a vivência medíocre que nos permeava. Nessa época eu não tinha uma verdadeira intenção de morrer. Mas algo aconteceu...

Hóspedes (New)

 Capítulo 1: Neblina de Sangue
 
Hoje completa quase um mês desde que abandonei minha velha cidade. Uma porra de lugarzinho pacato e sujo, onde tirava uma graninha tocando Folch de bar em bar. Minha esposa e minha filha achavam divertida aquela vidinha ordinária. Não posso negar que pra mim também não era muito ruim... Isso até o dia em que ele  apareceu...
 
Naquela noite eu havia feito uma das minhas melhores apresentações. Não que os bêbados se importem, afinal a única coisa que eles querem é um fundo musical animado que os faça imaginar que a vida deles não é tão medíocre. Foda-se eu não tenho nada haver  com isso mesmo. O lance era apenas entre eu e o violão, as bebidas, brigas, putas, vagabundos, etc... Faziam apenas parte do cenário embriagado das noites melancólicas desse lugar esquecido por Deus.
 
Encerrado o expediente e tendo eu cobrado os trocados costumeiros, segui o caminho de quatro quarteirões a pé para casa. Essa era a parte mais relaxante do dia, a caminhada noturna, nunca dava pra enxergar nada, a névoa se expandia a cada noite de maneira mais densa. Ficava mais fácil guiar-me olhando para o chão, onde dormiam os mendigos de sempre em seus respectivos lugares. Eram como migalhas da sociedade enfileiradas de modo a marcar o caminho da decepção, desgraça, morte...
E m determinado trecho do caminho as luzes dos postes estavam queimadas, uma escuridão profunda toma conta dos últimos dois quarteirões. Se essas ruas não fossem como assinaturas gravadas na palma da minha mão, seria mesmo um desafio encontrar o caminho certo, mas já estava acostumado. Pois este fato repetia-se todos os dias da mesma forma. Porém, alguns ruídos quebraram o silêncio costumeiro, pareciam galopes que pela intensidade do som podia se imaginar que o chão tremia diante da imensidão do animal que se aproximava.
 
Ele vinha em minha direção ainda meio invisível diante do lençol neblinoso que cobria aquela noite. No entanto permaneci imóvel; Medo, curiosidade e até mesmo uma certa incredulidade sobre o que estava acontecendo. Uma enorme corrente de possibilidades passa pela minha cabeça em milésimos de segundos, período interrompido por uma enorme cafungada, capas de empurrar meus cabelos para trás e limpar toda a névoa que me impedia de ver a criatura, a qual neste momento causa-me tamanho estupor fitando-me a meio-metro de onde estou.
 
Todos aqueles galopes pesados, aquela pressão psicológica e alguns respingos no meu rosto do que eu acredito ser o muco da besta, apresenta-se na humilde forma de um porco.
 
Muitas coisas são compreensíveis para mim,no entanto diante de uma situação como esta eu prefiro acreditar que apenas adormecera enquanto aguardava o fim do expediente no bar, e que se tratasse tudo de maneira banal eu acabaria acordando percebendo que era apenas um sonho... besteira da minha cabeça:
 
- Oh! É apenas um porco então??? - Ajo com indiferença- Pois bem! Devo seguir meu caminho! - Passei a frente deixando-o.
 
- RONCK! RONCK! Acalme-se humano! - Disse ele de maneira rude - Não precisa correr de mim pois não sou quem você deve temer esta noite...
 
- Hump! Não há nada aqui que eu deva temer, muito menos um porco! Dê-me licença! - Prossegui indiferente deixando o suíno para trás.
 
- Se eu fosse você, não pegarias este caminho! - Diz o cretino usando tom irônico. Ainda de costas respondo sem olhar:
 
- E porque não deveria ir?? Afinal é o único caminho! Deixe-me em paz !
- Você pode encontrar surpresas desagradáveis se for por aí...Mas se seguir em frente é o que você realmente deseja...Não está mais aqui quem falou... - Olho para trás enfurecido e digo:
 
- Vá se FODER !!!!!!! - O maldito não estava mais lá...
 
Apertei o passo estrada a dentro, para não correr o risco de encontrá-lo novamente. Porém ficou-me a impressão de que ainda estava por perto. Quando cheguei à porta de casa, olhei para todos os lados mas nada encontrei. "Eu devo estar bêbado e com muito sono mesmo...não é possível". Abri o portão e subi devagar as escadas para não acordar ninguém; Abro a porta da sala ainda sem ascender as luzes, encosto meu violão no braço do sofá onde pretendo passar a noite. Visto que passam das duas da madrugada. Essa hora poderia incomodar minha mulher se fosse deitar-me junto dela. Tirei os sapatos, percebi que o piso estava levemente umidecido e pegajoso, caminhei até o disjuntor e ascendi as luzes para ver o que era. Assustado e inquieto olhando para todos os lados pus-me a contemplar por alguns segundos a cena incrédulo... Sangue... Muito sangue por toda parte. Subi desesperadamente as escadas que me levavam ao quarto onde deveriam estar minha esposa e filha.
 
- Lauren! Rosely!!!!!
 
A porta já estava aberta, a luz acesa e não podia ouvir nem sequer um ruído. As marcas de sangue no corredor mostravam que alguém havia rastejado até o lugar. Entrei e ali estava o corpo de Lauren, minha esposa, esticado no chão todo ensangüentado e uma ferida enorme no pescoço, como se um animal feroz houvesse lhe atacado, seu rosto todo distorcido e quase irreconhecível devido ao modo bruto com o qual foi assassinada.
 
Suas mãos já e seguram uma pistola automática, que dei a ela para garantir sua segurança. É quase indescritível a mistura de estupor, desespero e revolta que senti assistindo aquela cena.
A arma estava apontada para a porta do quarto, que estava encostada, mas tive a impressão de que algo se escondia ali atrás. Carreguei a pistola e movi a porta enfurecidamente, colocando a arma na direção do que me aguardava...
Um grande suspiro, não havia perigo algum era apenas minha pequena Rosely, estava ali toda encolhida, ensangüentada, segurando os joelhos com os braços usando tanta força que eles poderiam partir-se em centenas de pedaços. Ela ergue o rosto mantendo os cabelos sobre os olhos, mas, revela seus lábios tingidos por aquele líquido vermelho. Fico horrorizado ao imaginar à que tipo de brutalidade minha família havia sido exposta e digo:
 
- Rosely ! Filha...você está bem?
 
Agora ela me lança um olhar demoníaco, sem que eu tivesse tempo para fazer qualquer coisa avança sobre mim como uma besta incontrolavél e morde meu braço com uma força que chego a ter a impressão de que ela poderia arrancá-lo com os próprios dentes, tensão interrompida apenas com um soco pesado com o qual golpeei a cabeça da criança que caiu com o pescoço quebrado no chão, contorcendo-se sem parar. 

Aquela não era mais a minha filha...

sábado, 19 de março de 2011

Blá, blá, bláaaa...


Carta ao leitor:

  Caros amigos, leitores e contribuentes dessa paradoxal obra sem pé nem cabeça venho lhes oferecer o ar da minha graça em razão de alguns esclarecimentos em relação a minha primeira, mais demorada, discutida e confusa obra " O Cartunista", belo nome não acham?...
Pois bem piadinhas a parte, em vista de tudo o que já passei para chegar até onde estou, diretamente do meu PC para suas devidas e respectivas casas, devo afirmar que trilhei um caminho um tanto complicado, e posso até mesmo listar os faots para ficar mais fácil:

  Primeiro: A roterização da estória foi sem dúvida alguma o maior desafio enfrentado até alguns tempos atrás, pois eu não encontrava encaixe, entre os temas, julgando pela pouca idade e experiência que tenho, sempre pensei não estar pronto para dar a largada em uma estória com assuntos tão abrangentes, mente, corpo, alma, Deus e o espírito santo; por mais que eu pesquisasse não encontrava uma concordância lógica para os acontecimentos, sentenças e fatos escritos. E por mais que eu tentasse de nada adiantava, foi então que eu percebi que não havia a necessidade da existência de uma razão natural para as coisas quando se trata de obras como estas, nada que venha do coração faz sentido!!!! Tudo é relativo, uma breve questão de ponto de vista e pronto, daí para frente eu saberia exatamente o que fazer...

  Segundo: Em diversas ocasiões pensei seriamente em jogar tudo o que fiz fora e desistir dessa ideia boba de escrever, desenhar, ficar famoso, rico, milionário, etc... Brincadeira essa nunca foi minha intenção, e nunca será, afinal não seria capaz de escrever algo que eu mesmo goste ou mesmo desenhar bem só para ganhar uns trocados, pode parecer uma coisa estúpida diante do nosso paraíso capitalista atual, mesmo assim, prefiro ficar comendo linguiça calabresa no pão francês com um suquinho de pêssegos que é uma delícia...

  O emocional realmente foi o meu maior ponto fraco. Se estou só sinto-me capaz de ignorar a morte dos meus parentes mais próximos, no entanto um dia na companhia de pessoas que tornam minha vida mais agradável é capaz de me fazer esquecer todos os meus planos. E em um piscar de olhos a perda dos mesmos poderia também me tirar a vontade de fazer qualquer coisa para sobreviver, "Até mesmo tomar banho", foi o que disse minha mãe na minha última crise existêcial. Lembrando disso faz mais ou menos um mês que eu pensei em rasgar todos os papéis onde estava escrito o nome
" O Cartunista"

  Pra ser sincero, penso nisso todos os dias, mas algo maior me impede de fazê-lo, afinal esta estória tem uma mensagem importante e o mais legal gratuita para todo esse mundo. Muitas mudanças serão estabelecidas durante o contexto, capaz até de dar a impressão ao leitor de que o autor da história não é o mesmo ou podem chegar a imaginar que ele(eu), sofre de algum transtorno de identidade. Mas não se preocupem olhem para suas próprias vidas e percebam que nunca conseguem manter o mesmo estado espiritual,  o que também não poderia deixar de acontecer com nossos queridos personagens, pois eles assim como você tem sentimentos. Estes podem causar mudanças significativas em seus respectivos temperamentos, hora ou outra eles também hão de desaparecer sem dar explicação plausível para seu repentino isolamento, outra característica muito semelhante as do nosso dia-a-dia.

  Contudo espero nunca decepcionar suas expectativas, mas ao contrário disso pretendo superá-las a medida que vou desencadeando os caminhos da estória que estou construindo juntamente a vocês...

  Atenciosamente, Luiz Fernando Garcia e Cesar de Melo Ortola.

  Agradecimentos: a todos aqueles que tiveram coragem de embarcar nessa leitura absurda e forem capazes de chegar ao fim sem ficar com vontade de nos matar ou mesmo arranjar um jeito de roubar nossas possíveis namoradas a fim de nos causar algum tipo de dano cérebro-emocional(BRINCADEIRINHA).

  Cortando o papo furado espero que os leitores presentes continuem nos acompanhando, e que os demais seres deste mundo possam tomar conhecimento deste nosso conteúdo proibido para aqueles que carregam alguma espécie de preconceito em sua concepção de vida, ou os que tem medo de conhecer a verdade...

  É com enorme prazer que encerro este show de desvarios e outras demais manifestações de estupidez que lhes antecipo que logo teremos o roteiro principal da narrativa do nosso primeiro e mais confuso personagem Matthew McGregory...

  Caso vocês se assustem eu peço para que continuem a dar suas opiniões a favor ou mesmo contra o método que utilizamos para detalhar os acontecimentos, contar e explicar a estória...
conto com vocês e se estiver falando demais, vocês podem postar em seus comentários um tremendo de um "CALA-A-BOCA-LOUIZ", pois eu não vou me ofender...
até o próximo contato e TCHAU....

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Cartunista - Pilot episode


Capítulo 5: Mattew e Renata (parte 2)
" Noite fresquinha"

- Renata! Que acha de deixarmos as arrumações pra depois irmos comer em algum lugar legal?

- Claro Mattew! Seria ótimo! Para onde vamos?

- Ué?! Para o lugar de sempre!
  
   Só pra estabelecer um melhor entendimento, essa é uma situação muito comum entre nós. Como eu nunca tenho dinheiro o bastante pra nos bancar em um lugar maneiro. Agente sempre termina as tardes comendo uma porrada de salgadinhos gordurosos e enchendo a cara de bebida barata de super mercado. Mas isso nunca me incomodou pelo menos não até agora.

- Cara você não tá cansado de sempre fazermos as mesmas coisas?
Puta-que-pariu. A vontade que eu tenho é de dizer que não, mas se fizer isso ela nunca mais vai olhar na minha cara e vai ter certeza de que eu sou um fracassado.

-Eh!... Bem... Não sei! O que você sugere?

- Não sei! Você é quem está convidando!

   Detesto quando ela me põe contra a parede e me obriga a pensar em algo que ela sabe que me incomoda. É como se estivesse dizendo "Anda, faz alguma coisa, se não eu vou ir embora pra sempre". Este tipo de coisa desperta meu sistema nervoso e me faz suar frio. Sem me esforçar muito digo a primeira coisa que me vem a cabeça:

- Que tal, dessa vez irmos à uma sorveteria? - Prendo a respiração aguardando a resposta.

- Perfeito! Faz muito tempo que não vou a um lugar desses!
Ufa, que alívio sinto um enorme peso sendo retirado das minhas costas. Uma voz interna grita quase ensurdecendo meus ouvidos, " é isso aí Matt..."

- Onde fica, é aqui perto?

   Sim, há uma sorveteria aqui perto, mas não posso levá-la naquela "birósca", o lugar está quase caindo aos pedaços. Tem uma outra perto da casa dela que não é tão ruim assim quanto os estabelecimentos daqui, só que os preços também não devem ser dos mais amigáveis!

- Não vamos à uma lanchonete que vende uns sorvetes maravilhosos, que fica perto da sua casa, daqui a umas duas quadras!

- Certo! Vamos caminhando o céu está escurecendo trazendo consigo uma noite fresquinha!

   Adoro quando ela foge do assunto principal e começa a apreciar as coisas da natureza. com certeza ela sabe que para levá-la em um lugar como o que vamos, terei de fazer um enorme esforço financeiro, sacrifício maior seria pagar um táxi ou buzão, para agente ir daqui até a outra esquina. Mas eu desse jeito delicado de dizer " Tudo bem eu entendo ". Eu prefiro ouvir " A noite está fresquinha, vamos caminhando!"

   Não levou nem 15 minutos de caminhada até a tal lanchonete, o lugar tem um nome bem sugestivo de " Happy hour club ", só pelo nome dá pra ver que é caro.

   Os assentos mais legais estavam ocupados por uns caras malhados acompanhados de suas namoradas gostosonas, que sempre usam aqueles perfumes adocicados com cheiro de frutas, talvez esses perfumes as façam sentir mais gostosas ainda. Mas isso não importa, o que me incomoda mesmo é que todos ao redor ficam olhando para agente, se perguntando algo do tipo:
" Quem que é esse maluco aí? ". Pelo menos é assim que o pessoal do gueto reage quando vê um forasteiro pelas bandas sombrias do subúrbio. Enquanto eu fico todo encabulado, me sentindo um mendigo com minhas roupas encardidas e desbotadas, Renata passa entre as mesas cumprimentando um por um com o sorriso mais forçado que já vi em toda a vida. Mas vamos concordar com uma coisa, a garota é mais popular que artista de TV, onde quer que eu vá com ela aparecem umas dezenas de marmanjos querendo tirar uma casquinha tá ligado(a). Não que eu devesse me importar com isso afinal nós não temos nada um com o outro mesmo, porém eu acredito que seja uma total falta de respeito importunar uma garota acompanhada por outro cara. Se fosse eu quem fizesse isso certamente levaria uns belos tapas , para aprender a ficar esperto. Pensando por esse ponto fica até fácil entender o porque de tanto desrespeito; é só olhar para um cara magrelo como eu que logo percebe-se que a garota que está ao meu lado só pode estar fazendo uma obra de caridade, e ainda por cima minha aparência não demonstra perigo nem sequer a uma mosca.

   Terminado o momento de constrangimento do dia fomos sentar numa mesa meio excluída, mas com visão esplêndida da cidade ao ar livre. Com uma lua semelhante a um queijo Suíço gigantesco, dá até vontade de morder, mas nesse instante nada me tira a atenção dos olhos grandes de Renata contemplando uma enorme lista de sorvetes saborosos e caríssimos, é quando se aproxima um sujeitinho bem do deslechado com uma pequena pelugem loira no queixo, a cara cheia de espinhas e um autoritarísmo estampado no rosto horroroso:

- E ai? Que vão pedir?

- Eu vou querer um sorvete de creme com chocolate e granola!

   Diz Renata toda bonitinha com a língua umidecendo os lábios antecipando a sensação que ainda estava por vir.

- Certo e você? - Agora ele olha pra mim com uma expressão impaciente! Eu não o culpo, também não seria muito feliz se tivesse que aturar diariamente uma cambada de filhinhos de papai com a bunda cheia de pomada anti-assadura.

- Eu... Não sei... Você tem aí uma carne bem passada no espeto? -

   Agora o cara me olha como se estivesse me esfaqueando em pensamento e Renata tenta controlar a vontade de rir, eu olho para ela e ai já viu, a garota começa a gargalhar e eu sigo o embalo sem nem ao menos me dar conta da cara toda vermelha de raiva que o atendente nervosinho estava fazendo. Mas já chega de zoar o cara, afinal quem está numa grande fria sou eu, todas as coisas aqui custam os olhos da cara. A saída foi pedir um suco de frutas que não pode custar mais do que 10 yens.

   Trazido o suco e finalmente deixados a sós, mal conseguia tocar na bebida de aparecia ótima e cara, enquanto observava Renata devorando graciosamente, o creme, o chocolate e por fim a granola.
Fiquei imaginando que todos nossos dias poderiam ser assim, tirando a parte do sorvete porque esse tipo de rolê não é muito econômico. Economias a parte, confesso que nada nesse mundo me agrada mais do que estar na companhia dela, até mesmo a pobreza torna-se apenas um detalhe charmoso que poderia nos unir, mas não isso o que rola.

   Sentindo as mãos tremulas os pés paralisados e tendo a impressão de que o mundo todo tivesse parado para ouvir a seguinte questão:

- Se por acaso ... Eu... Me tornasse alguém nessa vida, desse um duro danado e comprasse um lugar legal pra se viver, você viria comigo?

Tudo continua como estava, em silêncio, apenas Renata continua aumentando o suspense enquanto resgata desesperadamente as últimas raspas de creme, fazendo um barulho confortável e assombroso ao mesmo tempo. Levando a última colherada à boca em um processo tão lento que quase me enlouquece. No entanto tudo volta a seu lugar quando ela suga com carinho o liquido que resfria seus lábios rosados e diz:

- Você acha mesmo que conseguiria?

Não. Respondo pra mim mesmo...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Cartunista - Pilot episode


Capítulo 4: Mattew e Renata (parte 1)
"O retrato da mediocredade"
Essa manhã foi meio nostálgica, mas também interessante, pelo menos no meu ponto de vista. Foi engraçado imaginar se rolassem mesmo alguns barracos no velório do ancião solitário. Saindo do cemitério avistei novamente a garota que parecia estar me seguindo. Cabisbaixa em frente ao túmulo do velho, isso explica uma pequena sensação que tive ao velar o corpo dele, algo me parecia estranho como se houvesse alguém observando, talvez tenha sido isso mesmo; a menina com medo ou vergonha ao ver um estranho, esperou que eu me retirasse para poder visitar seu ente falecido. Mistério resolvido...

Foram rápidas as horas que me levaram até minha antiga moradia para apanhar meus pertences depois ir à casa de Renata para ver se podia me ajudar a ajeitar minhas coisas no novo lar, dei a desculpa de que seria mais legal ter um toque de organização feminina para as coisas não ficarem de ponta cabeça. Em um breve instante antes de chegarmos, fico pensando na garota no cemitério, mas minha mente muito lógica me pede para ignorar novamente. Eu obedeço.
Percebo que Renata está ansiosa para ver a casa, por isso está respeitando o meu silêncio.

- Chegamos! - Disse eu quebrando o silêncio.

- Nossa Mattew! Então é essa a casa que você comprou? - Posso ver a sombra da decepção estampada sobre seus olhos, mas ignoro isso também.
O que sempre me chama a atenção é que ela nunca ousa chamar-me de Matt como os outros.

- Sim , na verdade eu praticamente a ganhei. O senhor Hitosh - Em fim lembrei-me do nome do velho - Já estava certo de seu falecimento, sem parentes nem amigos próximos nada teria a fazer com muito dinheiro.

- Cara que tenso! Tu não tem medo de morar sozinho na casa de um homem morto?

- Por que eu deveria sentir medo?

- Sei lá! Quando eu era pequena eu costumava ver o espírito do meu avô que havia falecido não muito após o meu nascimento!

- O quê? Está sugerindo que o fantasma do velho "Shing- Ling" virá me assombrar para tomar de volta a sua casa? - Digo em tom debochado.

- Não zombe de mim Mr. McGregory!

- Desculpe, mas não pude resistir à piada! A verdade é que eu não consigo acreditar em coisas que não posso ver e, além disso, duvido que espíritos, ou sei lá o que sejam essas coisas depois que morrem, venham querer intrometer-se na vida das pessoas miseráveis deste mundo, não vejo lógica nisso e se eu morresse neste exato momento, estou certo de que não haveria nada nesse mundo que me faria permanecer entre os vivos. Este mundo após a morte nada tem a nos oferecer!

- Talvez você tenha razão

- Não! Não leve muito em consideração o que eu digo! Afinal eu não fico muito tempo pensando nessas coisas. - "Afinal eu não perco o meu tempo pensando em porra nenhuma". Foi o que eu quis dizer...

- Certo!

Ela afirma com a cabeça de modo a encerrarmos o assunto. Então seus olhos direcionam-se a uma das caixas que eu carregava, agora jogada ao chão como as demais coisas que trouxe comigo da casa da minha mãe.
- O que há naquelas caixas? Não vai dizer que tudo aquilo são suas roupas?

- Não! Nada disso! Minhas roupas estão todas nessa pequena maleta que seguro. - Percebo a grande estupefação em sua face mirando a minha mão esquerda que carrega uma pequena maletinha que não suportaria nem mesmo seis peças de roupa.

- Então o que você carrega nesses caixotes?

- São apenas alguns livros, papeis limpos e alguns desenhos!

- Estes livros, você já leu todos?

- É... Como posso dizer?... - Fico um tanto confuso com minhas próprias explicações. - Mais ou menos!

- Como assim?

- Bom! Pra ser sincero eu já li todos, porém nunca tive coragem de ler o último capítulo de nenhum deles!

- Quer dizer que você não terminou de ler?

- Não eu prefiro dizer que eu li o bastante de cada um! Veja por esse lado, cada um desses livros traz uma fabulosa estória, de romance, suspense, aventura, romance-policial, ou seja, são o tipo de leitura que desperta em você a vontade de participar da estória e criar situações mirabolantes para descobrir quem ou o que é o verdadeiro causador de caos dentro do contexto. Sendo assim você acaba criando a sua versão pessoal da estória. No entanto a maioria das pessoas que agem dessa maneira termina por terem suas expectativas frustradas num desenrolar tristemente patético da liturgia, ou em casos reservados a leitura acaba superando suas conclusões apresentando um desfecho mais complexo do que as simples e ingênuas teorias do leitor, o que também não agrada muito. Eu prefiro parar no ponto mais crítico da estória e elaborar o meu próprio desfecho, de forma a não haver um final muito feliz, nem dramático ao extremo, afinal na vida real, o único fim propriamente dito é a morte, mas seria muito estúpido se
todos os livros terminassem com seus personagens principais todos engomadinhos dentro de um caixão de mármore queimado, mas também seria estranho se houvesse um "feliz para sempre", no fim de cada livro.
- Nunca havia reparado nas coisas por esse ponto de vista! - Diz Renata ainda tentando processar a grande quantidade de asneiras que disse a ela.

- Bom! Existem prós e contra, sem contar nas milhares de baboseiras que se comete ao pensar dessa maneira. Mas eu não me importo talvez algum dia eu termine de ler, mas agora não tem tanta urgência.

- Como você é esquisito!

- Não! Não é isso, a verdade é que eu não me importo com essas coisas!

- Entendo! - Quando diz isso reparo que algo lhe escapou do semblante, talvez alguma coisa que eu disse tenha a desagradado. Às vezes eu sinto que ela se decepciona comigo, tipo quando ela me lança um olhar como se estivesse estampada na minha cara a palavra "estúpido", ou qualquer outra coisa que siga esse gênero.

Demora um pouco e ela caminha até o centro do que certamente seria a sala de estar do Hitoshi Sama, onde deixei outra caixa repleta de papeis. E surge a pergunta:

- E nessa caixa? O que trouxe? Mais livros?

- Não! Ai estão alguns desenhos e resto são rascunhos e papeis em branco!

- Posso ver? - Ela faz uma cara de pidona e começa a fuçar dentro da caixa como se fossem obras primas insubstituíveis, é por isso que eu gosto tanto dela, sempre faz as coisas parecerem fantásticas. - Nossa Mattew você é um artista, já pensou em investir nisso?

- Bem! Antes eu até me iludia com essa ideia, mas logo percebi que as pessoas daqui jamais dariam importância para um cara como eu.

- Mattew os valores das pessoas partem delas mesmas. Ou seja, se a mudança não partir de você, não importa para onde vá, as pessoas sempre verão você da mesma forma!

- Putz! Isso foi profundo, mas não muda meu jeito de pensar. Quanto aos meus desenhos, é apenas um hobbie! Se um dia vão me levar a algum lugar, prefiro deixar que a natureza dos fatos decidam por mim.

- Ora, ora! Mattew você é um cara muito confuso mesmo.
- E então! O que você achou do meu novo cafofo? - Cortando o assunto principal novamente, observo enquanto Renata contempla cada espaço vazio e empoeirado da casa e aguardo sua resposta: Ela me encara com seus olhos grandes, ergue as sobrancelhas repetindo o movimento com as mãos e diz:

- Bom! Que posso dizer?

- Diga o que quiser! - Como se qualquer coisa que ela dissesse não pudesse me agradar tão pouco me ofender. Acho melhor bancar o indiferente em situações semelhantes.

- É... A sua cara! Não te imaginaria vivendo em um lugar diferente!

- Muito obrigado! - Sem qualquer motivo mais interessante caímos na risada. Quanto ao comentário dela não sei se devo me ofender ou levar como elogio. Afinal se essa casa tem tanto a ver comigo como ela disse, certamente deve pensar que sou um perdedor. Não a culpo por pensar assim, pois ela é o tipo de pessoa a quem nunca faltou nada na vida. O pai dela morreu antes que ela pudesse guardar qualquer lembrança do cara, daí a mãe dela se casou com um boa pinta montado na grana e eles moram num bairro classe média-alta a duas quadras daqui, acho que é a primeira vez que ela coloca os pés no gueto. Eu nunca entrei na casa dela porque eu acho que o padrasto não curte muito que sua enteada leve marmanjos desocupados como eu pra ficar fuçando na tv de plasma 42 polegadas que logicamente eles devem ter pendurada na parede da sala (isso se não for coisa maior), ou mesmo assaltando a geladeira recheada de tudo que se possa imaginar. Eu chego a entender o ponto de vista do cara.

Continuando, eu nunca tive coragem de levá-la na minha outra casa, senti medo de que ela se assustasse e nunca mais olhasse na minha cara. Sabe como é né? Se eu fosse um cara que tivesse uma vida boa como a dela com certeza pensaria umas mil vezes antes de sequer olhar na cara de um pé-rapado como eu.

Mas eu até me alegro agora quando penso que mesmo ela tendo um leque imensurável de melhores opções, prefere a minha companhia.
Por isso quando comprei essa casa quis que ela fosse a primeira a ver meu primeiro ato de independência, minha casa própria, e por mais humilde que seja eu também jamais havia me imaginado em lugar diferente desse. Se quer saber esta casa é exatamente como eu imaginava que seria quando eu saísse da casa da mamãe.

Um bairro suburbano, mas tranquilo sem barracos nem tiroteios, acho que os caras daqui também não curtem muito perder tempo brigando, ou comendo a mulher uns dos outros, de certo que para evitar dor de cabeça, eu curto esse lance, se pudesse até criaria uma religião com esse propósito, o discurso poderia ser assim:

“Em prol de evitar a fadiga, qualquer tipo de preocupação e dores de cabeça, permaneçamos cada um de nós com nossos traseiros fedorentos grudados em suas respectivas poltronas..."

As vezes eu acho que é por esse tipo de pensamento que minha mãe se decepcionou tanto comigo a ponto de nem se importar se eu ia passar fome aqui ou não.
             Contudo foi esse o processo que me trouxe até aqui.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Entretenimento - xxx Holic - on line

Muito antes de ter a curiosidade de assistir esse anime, alguns amigos que já conheciam o enredo principal de "O Cartunista", disseram poxa esse começo parece até Holic.
 Daí eu pensei:
Malditos japoneses vivem sempre plagiando as minhas ideias antes de eu publicá-las...

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Cartunista - Pilot episode



Capítulo 3: Funeral

Voltando ao assunto, eu fiquei curioso pra ver como as coisas iam rolar no velório do velho shing ling, cujo nome não consigo me lembrar. Foi um negócio meio triste, pior que o do meu coroa, quando ele bateu as botas havia meia dúzia de fracassados velando seu corpo, incluindo eu e minha mãe. Só que pra minha maior surpresa, no enterro desse pobre filho de Deus não apareceu nenhuma alma viva além de mim, nem mesmo os vizinhos colegas que lhe compraram o caixão e o bonsai.
“Bando de filhos-da-puta”, eu pensei, mas logo imaginei que toda a elaboração do funeral já tivera tomado grande parte de tempo desses vizinhos gentis, certamente eles tem mais o que fazer.

De certa forma estou feliz de ter vindo apenas eu, do contrário estaria correndo o risco de presenciar uma daquelas cenas deprimentes que nunca fogem da nossa memória, coisas do tipo: uma amante secreta se desmanchando em lágrimas, ou um daqueles caras vingativos que ficam dando risadas e falando desaforos sobre a pessoa morta como se o cara fosse levantar do caixão e começar a retrucar em sua própria defesa. Entretanto pela experiência que venho adquirindo visitando a cemitérios, esse tipo de coisa nunca acontece, as pessoas mesmo que detestando o morto, agem como se tivessem sofrido uma perda irreparável quando na verdade, por dentro estão saltitando feito crianças hiperativas. Não demorou muito pro velho ser enterrado; de repente surgiram dois malandros fortões e disseram friamente:

- Podemos levar?

Eu consenti com a cabeça e lá se foi o velho pra cova.

Nesse momento tive a breve sensação de estarmos sendo observados de longe por uma garota acompanhada de um cãozinho a uns 20 metros de onde estávamos, mas no fim das contas eu a ignorei. Contudo por mais tenso que tenha sido esse processo de enterrar o velho sem nem ao menos fazer uma oração, levando em consideração o carácter dos padres dessa cidade, continuo preferindo que esteja apenas eu aqui mesmo. Terminada a cerimonia fúnebre aproveitei para visitar o túmulo do meu pai, não foi nada depressivo, esse drama todo que aparece na TV não combina muito com a relação que tínhamos um com o outro. Eu apenas me sentei ao lado do túmulo e disse:

- E ai, coroa? Como vai? - Ninguém responde.

                       “... Mas eu sei que está tudo bem...”.