sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pequeno diário da Morte(New)

Introdução:

No dia em que eu faleci pela primeira vez, nada parecia fazer sentido; amor, felicidade, satisfação e orgulho..." Que significado poderiam fazer essas palavras?"
Por esse motivo percebi que não havia sentido em viver, ao menos que este fosse um morto viver. A morte dentro da vida, ou, a vida mergulhada na morte .
 
Daí em diante inventei diversas maneiras de morrer ainda vivo.
Forcas, afogamentos, cortes superficiais nos pulsos, acidentes minunciosasmente planejados...Entre outras peripécias...
Tudo isso com o único objetivo de chamar a atenção das pessoas para a vivência medíocre que nos permeava. Nessa época eu não tinha uma verdadeira intenção de morrer. Mas algo aconteceu...

Hóspedes (New)

 Capítulo 1: Neblina de Sangue
 
Hoje completa quase um mês desde que abandonei minha velha cidade. Uma porra de lugarzinho pacato e sujo, onde tirava uma graninha tocando Folch de bar em bar. Minha esposa e minha filha achavam divertida aquela vidinha ordinária. Não posso negar que pra mim também não era muito ruim... Isso até o dia em que ele  apareceu...
 
Naquela noite eu havia feito uma das minhas melhores apresentações. Não que os bêbados se importem, afinal a única coisa que eles querem é um fundo musical animado que os faça imaginar que a vida deles não é tão medíocre. Foda-se eu não tenho nada haver  com isso mesmo. O lance era apenas entre eu e o violão, as bebidas, brigas, putas, vagabundos, etc... Faziam apenas parte do cenário embriagado das noites melancólicas desse lugar esquecido por Deus.
 
Encerrado o expediente e tendo eu cobrado os trocados costumeiros, segui o caminho de quatro quarteirões a pé para casa. Essa era a parte mais relaxante do dia, a caminhada noturna, nunca dava pra enxergar nada, a névoa se expandia a cada noite de maneira mais densa. Ficava mais fácil guiar-me olhando para o chão, onde dormiam os mendigos de sempre em seus respectivos lugares. Eram como migalhas da sociedade enfileiradas de modo a marcar o caminho da decepção, desgraça, morte...
E m determinado trecho do caminho as luzes dos postes estavam queimadas, uma escuridão profunda toma conta dos últimos dois quarteirões. Se essas ruas não fossem como assinaturas gravadas na palma da minha mão, seria mesmo um desafio encontrar o caminho certo, mas já estava acostumado. Pois este fato repetia-se todos os dias da mesma forma. Porém, alguns ruídos quebraram o silêncio costumeiro, pareciam galopes que pela intensidade do som podia se imaginar que o chão tremia diante da imensidão do animal que se aproximava.
 
Ele vinha em minha direção ainda meio invisível diante do lençol neblinoso que cobria aquela noite. No entanto permaneci imóvel; Medo, curiosidade e até mesmo uma certa incredulidade sobre o que estava acontecendo. Uma enorme corrente de possibilidades passa pela minha cabeça em milésimos de segundos, período interrompido por uma enorme cafungada, capas de empurrar meus cabelos para trás e limpar toda a névoa que me impedia de ver a criatura, a qual neste momento causa-me tamanho estupor fitando-me a meio-metro de onde estou.
 
Todos aqueles galopes pesados, aquela pressão psicológica e alguns respingos no meu rosto do que eu acredito ser o muco da besta, apresenta-se na humilde forma de um porco.
 
Muitas coisas são compreensíveis para mim,no entanto diante de uma situação como esta eu prefiro acreditar que apenas adormecera enquanto aguardava o fim do expediente no bar, e que se tratasse tudo de maneira banal eu acabaria acordando percebendo que era apenas um sonho... besteira da minha cabeça:
 
- Oh! É apenas um porco então??? - Ajo com indiferença- Pois bem! Devo seguir meu caminho! - Passei a frente deixando-o.
 
- RONCK! RONCK! Acalme-se humano! - Disse ele de maneira rude - Não precisa correr de mim pois não sou quem você deve temer esta noite...
 
- Hump! Não há nada aqui que eu deva temer, muito menos um porco! Dê-me licença! - Prossegui indiferente deixando o suíno para trás.
 
- Se eu fosse você, não pegarias este caminho! - Diz o cretino usando tom irônico. Ainda de costas respondo sem olhar:
 
- E porque não deveria ir?? Afinal é o único caminho! Deixe-me em paz !
- Você pode encontrar surpresas desagradáveis se for por aí...Mas se seguir em frente é o que você realmente deseja...Não está mais aqui quem falou... - Olho para trás enfurecido e digo:
 
- Vá se FODER !!!!!!! - O maldito não estava mais lá...
 
Apertei o passo estrada a dentro, para não correr o risco de encontrá-lo novamente. Porém ficou-me a impressão de que ainda estava por perto. Quando cheguei à porta de casa, olhei para todos os lados mas nada encontrei. "Eu devo estar bêbado e com muito sono mesmo...não é possível". Abri o portão e subi devagar as escadas para não acordar ninguém; Abro a porta da sala ainda sem ascender as luzes, encosto meu violão no braço do sofá onde pretendo passar a noite. Visto que passam das duas da madrugada. Essa hora poderia incomodar minha mulher se fosse deitar-me junto dela. Tirei os sapatos, percebi que o piso estava levemente umidecido e pegajoso, caminhei até o disjuntor e ascendi as luzes para ver o que era. Assustado e inquieto olhando para todos os lados pus-me a contemplar por alguns segundos a cena incrédulo... Sangue... Muito sangue por toda parte. Subi desesperadamente as escadas que me levavam ao quarto onde deveriam estar minha esposa e filha.
 
- Lauren! Rosely!!!!!
 
A porta já estava aberta, a luz acesa e não podia ouvir nem sequer um ruído. As marcas de sangue no corredor mostravam que alguém havia rastejado até o lugar. Entrei e ali estava o corpo de Lauren, minha esposa, esticado no chão todo ensangüentado e uma ferida enorme no pescoço, como se um animal feroz houvesse lhe atacado, seu rosto todo distorcido e quase irreconhecível devido ao modo bruto com o qual foi assassinada.
 
Suas mãos já e seguram uma pistola automática, que dei a ela para garantir sua segurança. É quase indescritível a mistura de estupor, desespero e revolta que senti assistindo aquela cena.
A arma estava apontada para a porta do quarto, que estava encostada, mas tive a impressão de que algo se escondia ali atrás. Carreguei a pistola e movi a porta enfurecidamente, colocando a arma na direção do que me aguardava...
Um grande suspiro, não havia perigo algum era apenas minha pequena Rosely, estava ali toda encolhida, ensangüentada, segurando os joelhos com os braços usando tanta força que eles poderiam partir-se em centenas de pedaços. Ela ergue o rosto mantendo os cabelos sobre os olhos, mas, revela seus lábios tingidos por aquele líquido vermelho. Fico horrorizado ao imaginar à que tipo de brutalidade minha família havia sido exposta e digo:
 
- Rosely ! Filha...você está bem?
 
Agora ela me lança um olhar demoníaco, sem que eu tivesse tempo para fazer qualquer coisa avança sobre mim como uma besta incontrolavél e morde meu braço com uma força que chego a ter a impressão de que ela poderia arrancá-lo com os próprios dentes, tensão interrompida apenas com um soco pesado com o qual golpeei a cabeça da criança que caiu com o pescoço quebrado no chão, contorcendo-se sem parar. 

Aquela não era mais a minha filha...